Casa em S. Mamede

O projeto:

Brevemente

Local: S. Mamede Infesta
Ano: 2020
Fase: Pronto
Duração: 24 meses
Tipologia: Moradia V4
Design de interiores & Decoração: SHI Studio  
Arquitetura geral: SHI Studio
Fotografia: Pedro Mendes

 

Leia o texto da jornalista Sílvia Cardoso sobre este projeto, e que foi publicado na revista Homify.
Se preferir leia-o no sítio original clicando AQUI.

"Um Projeto de Reabilitação Magnífico"

 

Somos confessos fãs de projectos de reabilitação. É sempre interessante ver como do antigo se faz novo e perceber os elementos que os arquitectos e designers de interiores decidem preservar de forma a não descaracterizar os edifícios e a subtraí-los à essência que eles encerram. Além disso, as nossas cidades precisam de menos construção e de mais reabilitação. É fundamental preservar-lhes a história e não descaracterizar, continuamente, a paisagem.

Se nos acompanha com alguma assiduidade, é provável que já tenha por aqui visto alguns projectos do gabinete ShiStudio Interior Design. A designer por detrás deste nome – Sheila Moura Azevedo – já nos habituou à sensibilidade, bom-senso e unicidade com que aborda cada trabalho. Hoje, trazemos-lhe mais uma bela casa desenhada e arquitectada pelo atelier. É a Casa do Eirado. Vai adorá-la. Não tenha dúvidas.

Tem telhado cor-de-laranja (que tão bem define a identidade e fisionomia das cidades portuguesas), pequenas janelas e azulejos amarelo pálido a revesti-la: olhando para a pitoresca fachada exterior, com manifesta traça tradicional, que os profissionais souberam respeitar e preservar, ninguém imagina o que por detrás dela vamos encontrar. E não são estes os melhores projectos?

Na parte de trás, a casa abre-se generosamente para um convidativo terraço com jardim. Uma das mais notórias diferenças é, aliás, a moradia ter agora amplas janelas que se relacionam francamente com o exterior, permitindo que a luz natural invada o núcleo social e que, a partir dele, os adultos possam vigiar as crianças enquanto elas brincam livremente ao ar livre. Repare que a designer optou por manter a portinhola resguardada por um pequeno telhado: um delicioso detalhe que é testemunho do passado e que agora se alia à contemporaneidade do edifício.

As esquadrias negras contrastam com as paredes claras, pintadas de fresco, e com o novo piso, também ele novo em folha e muito mais leve e moderno do que o anterior.

Ao terraço segue-se o jardim sombreado pelas copas frondosas das árvores nele plantadas. Esta moldura verde enquadra a casa na perfeição.

No hall de entrada, o lambril, o mosaico hidráulico e a escada a dar acesso a uma segunda porta, com um arco no topo e a pedra a respaldá-la, encontram-se em plena harmonia e apelam-nos a entrar para vermos mais. Curiosamente, a porta antiga como que emoldura a porta moderna, ao fundo, como se de uma linha cronológica se tratasse. O espaço é assaz luminoso e conta com paredes pintadas numa elegante e clara tonalidade de azul acinzentado.

Comecemos por uma zona privada da casa: o quarto. O chão em pinho vem emprestar calor e personalidade ao quarto (e a toda a casa) e adoçar a presença mais fria da pedra e dos materiais modernos. O volume que vemos na imagem anterior, revestido com um papel de parede que nos parece em tecido, servirá como pano de fundo para a cama e surge também como divisória entre a zona de descanso e o closet com armários feitos à medida para optimizar ao máximo os espaços de arrumação, o que num projecto de reabilitação pode ser desafiante.

A casa de banho da suíte tem uma estética algo mid-century com o móvel do lavatório em madeira escura a contrapor os maravilhosos azulejos claros que revestem a parede e cujo padrão geométrico proporcionam dimensão ao espaço. As torneiras de parede, por serem em preto, trazem arrojo e originalidade ao espaço. É curioso perceber como estes detalhes têm tanto impacto no resultado. A iluminar esta exímia combinação de materiais está a luz natural que entra pela clarabóia que é fundamental para manter a atmosfera luminosa.

O núcleo social da casa sofreu uma espectacular transformação – porventura a que mais nos impressionou neste projecto que tão bem conseguido foi do início ao fim.

As divisões escuras e acanhadas da moradia não mais existem. Agora, a casa contém um espectacular open space com um pé-direito alto e vigas que o sustêm e lhe dão um ar de celeiro antigo, mas com uma estética moderna e relevante.

designer conseguiu aqui criar um sentido de poesia e de contemporaneidade destilada a partir de formas vernaculares, materiais rústicos e não só. A cozinha acomoda uma fantástica e espaçosa ilha central e aparta-se visualmente do resto do espaço através do piso em azulejo com um desenho que nos remete ao dos hidráulicos. A estética industrial e contemporânea da cozinha é acentuada pelo viroc que volta a aparecer na parede paralela a esta.

Em frente à cozinha, uma zona de refeições (pontuada por um candeeiro rústico) e, depois, a zona de estar onde a lareira criará, por certo, uma atmosfera muito intimista e aconchegante. A lareira vem, ainda, acentuar a verticalidade deste espaço, assim como a estética industrial que o caracteriza.

Os painéis Viroc (um material que mistura partículas de madeira e cimento, combinando a flexibilidade da primeira com a durabilidade do segundo) repetem-se neste lado da open space e, com as suas manchas e imperfeições (que são propositadas) propiciam-lhe aquele ar brutalista, cru e urbano que é, claro está, compensado pelo chão em pinho, pelas vigas e pela luminosidade.

Estamos siderados com este espaço amplo, fluido, sem barreiras que promove uma dinâmica familiar de proximidade e convívio.

Na casa de banho social, evidencia-se o papel de parede da Elitis cujo padrão arrojado – mas elegante, sempre elegante – evoca destinos tropicais, férias com o mar por perto e roupa de Verão no corpo. O tom rico da madeira do lavatório vem aguçar-lhe essa tropicalidade e o candeeiro suspenso, que emana uma luz âmbar, faz sobressair este desenho cheio de nuances.

O segundo quarto segue a estética do primeiro, mas tem as paredes em verde seco – uma cor sempre fresca, refinada e versátil – e o papel de parede como apontamento.

Já não há estrelas no céu porque estão todas no chão desta casa de banho! Neste espaço, o chão estrelado é o protagonista. Para as paredes, optou-se por subway tile – que vai ao encontro da estética industrial da casa – e, ao contrário do que acontece nas demais casas de banho, favoreceu-se uma madeira mais clara para o móvel do lavatório.

Terminamos em beleza, no sótão da casa, que pode ser usado para os mais diversos fins: como escritório, como quarto, como sala de brincadeiras para os miúdos, como segunda sala para a família, como zona de arrumação, ou para tudo um pouco! A madeira tem uma presença expressiva neste espaço tão cheio de personalidade com os tectos baixos e esconsos e a pequena janelinha a deixar a luz natural entrar!